SINVAL SANTOS

"A todo e qualquer momento,

Em toda e qualquer ação

Deixe fluir o sentimento

Leve da meditação."

quarta-feira, 29 de julho de 2009

MESTRE LAURENTINO NO DOMINGÃO DO FAUSTÃO (02/08/09)

Olá Amigos e Companheiros da Arte, da Educação e da Vida

Tenho a muito grata felicidade de partilhar esta notícia pois Mestre Laurentino é um homem realmente incrível, vale a pena assistí-lo cantar, tocar seu instrumento e dançar. Enquanto vários idosos estão desistindo de viver, sofrendo e mal conseguem se mover, ele dá uma verdadeira lição de vida com seu show de talento e energia.
Que viva muito mais ainda nos ensinando muito mais e que o coletivo Rádio Cipó consiga levar seus projetos adiante testemunhando o talento de um homem negro de origem humilde, carente que só agora alcança o reconhecimento. Lembrando Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena"
Felicidade a Todos


Você
Domingo, 19/07/2009, 10:28h
Mestre Laurentino, o primeiro roqueiro do Brasil
Foto: Ney Marcondes

Mestre Laurentino tem 84 anos de idade e adora "fazer onda"

A onde Mestre Laurentino chega causa estardalhaço. De óculos escuros, camisa de caxemira na finta, dedos apinhados de anéis e sempre na companhia de uma inseparável faca francesa na cintura, a famosa “provoca que eu te finco”. Sem frescura ou nhê nhê nhê, porque o velho não é de levar desaforo pra casa. Estudou só até a quinta série. Trabalhou na roça, como técnico de manutenção de aviões e explorando madeira. Foi de tudo um pouco, e do pouco fez muito.

Músico autodidata, mesmo sem lançar nenhum disco em mais de 60 anos de carreira, teve suas músicas gravadas por grandes nomes do circuito nacional, como mundo livre S/A, Gilberto Gil, Otto e Tom Zé. Laurentino já tocou pelos palcos do país afora e hoje é considerado o roqueiro mais antigo do Brasil. E tudo isso na humildade, pois se considera pequeno e diz que os outros, quando o elogiam, não têm razão.

Ele desafiou tudo, até mesmo a lógica. Aos 84 anos, foi “descoberto” pela grande mídia e agora toda essa força criativa será exibida em rede nacional, no quadro “Figuraça”, do programa Domingão do Faustão, que irá ao ar no dia 2 de agosto. Com vocês, o estilo Laurentino de ser.

Underground

João Laurentino da Silva, mais conhecido no mundo pop como Mestre Laurentino (ou Laurentino da Gaita), sempre foi um artista marginal por essência. Desde o início de sua carreira, é avesso a rótulos e convenções. Seja pela escolha de seu instrumento de trabalho, a harmônica de boca de 64, carinhosamente apelidada de “namoradinha”, seja pelo fato de que, na terra do carimbó, ele resolveu seguir o seu próprio nariz e decidiu descambar para outros ritmos.

“Eu não faço carimbó ou siriá. O que eu gostava de tocar era jazz, bolero, valsa, mazurca”, diz Laurentino.

A curiosidade atual da grande mídia pode levar a pensar que a popularidade do mestre é um fenômeno recente, mas ela veio se construindo ao longo dos anos pelo underground brasileiro. Mesmo com uma aparição aqui e acolá, foi só através do boca a boca, de show após show, que Laurentino conquistou sua majestade.

“Foi um papo que rolou do mestre sendo reconhecido como o roqueiro mais velho do Brasil. Isso foi crescendo na internet, nos blogs, na mídia especializada em música. Aí finalmente despertou o interesse da produção do programa”, conta Carlinhos Vas, baterista do Coletivo Rádio Cipó, grupo que acompanha Laurentino pelas suas “bandalheiras musicais” desde 2001. E completa: “Pela sua atitude, sua liberdade e espontaneidade no palco, de fato, eu tenho que concordar: não existe ninguém mais rock and roll do que ele”.

E foi a partir do contato com os “meninos” do Coletivo Rádio Cipó que Laurentino despontou para o mundo. O vocalista Ruy “RatoBoy” Montalvão explica que a gênese de tudo está no final da década de 1990, quando ele ainda fazia parte da extinta banda Mangabezo. “Foi no Rock 6 Horas, lá em São Brás. O Ná Figueredo nos chamou e pediu para que ‘um senhor que tocava gaita’ abrisse o show da banda. O grupo topou e seu Laurentino caiu na graça de todos”, recorda-se.

Abria-se então a janela para que o mestre começasse a ser conhecido em território nacional. Naquele show, assistindo a tudo, estava Hermano Vianna, antropólogo e pesquisador na área de música, que visitava o Pará no intuito de garimpar artistas locais para o projeto Música do Brasil. Hermano convidou Laurentino para o projeto, que seria exibido pela MTV em 2000, e Gilberto Gil acabou gravando o maior hit de Laurentino, “Lourinha Americana” para o especial. Depois, ao ver o material coletado por Hermano, a banda pernambucana mundo livre S/A quis gravar a faixa. A música está no quarto CD do grupo, “Por Pouco”. “Foi uma bandalheira que eu fiz. Fala de nossa raça negra, das sacanagens dos americanos com a gente. Eu fiz de brincadeira e o pessoal gostou”, explica Laurentino, que “acha” que isso foi nos anos 70.

“CADA UM TEM SEU MODO DE VIVER”

Anárquico e espontâneo em tudo o que faz, o mestre fala do seu processo de criação: “Eu faço música de repente. Eu vou tocando com a turma e vem na minha cabeça. Cada um tem um dom, um sistema, um modo de viver. Quando eu tô tocando, me concentro e vem aquilo na minha cabeça de repente. Eu gravo e depois toco”, diz ele.

Laurentino produziu centenas de fitas cassetes gravadas no quintal de sua casa. Detalhe: nelas, dá para ouvir uivos de cachorros, papagaios gritando, galinhas cacarejando, um fuzuê. Acabou criando uma linguagem diferenciada no ato de fazer música. Começando pela personagem Mestre Laurentino – de estilo próprio, diz produzir até suas roupas, um visual que define como “fora de série”.

Do nome de sua banda paralela, formada em 2008 com o pessoal do Rádio Cipó, talvez venha a melhor definição do que encarna esse caboco de Ponta de Pedras: é o Laurentino Style.

De ícone pop, agora o mestre está prestes a tornar-se uma lenda, por conta do projeto “Acervo Audiovisual Mestre Laurentino, 80 anos de vida”, coordenado pelo Núcleo de Vídeo Rádio Cipó e que terá o documentário “Estação da Saudade”, sobre a vida e obra do cantor, dois CDs - “Lourinha Americana” e “Paisagem de Nuvem Branca Embaixo do Céu Azul” e uma biografia. “Será um enorme trabalho de resgate cultural do Laurentino. Tá valendo a pena só por ser o primeiro registro musical dele gravado. Queremos imortalizá-lo para as futuras gerações, manter o seu legado”, revela Carlinhos.

Alheio a todo esse estardalhaço, o mestre segue na humildade com sua vidinha. Sua casinha em Outeiro, região metropolitana de Belém, onde mora com dona Elza, rodeado pelos seus 16 filhos e seus mais de 14 cachorros. E quem sabe um copo de vinho de vez em quando. Quanto ao Faustão, ri e afirma sem falsa modéstia:

“Vou desarrumar tudo.” (Diário do Pará)