SINVAL SANTOS

"A todo e qualquer momento,

Em toda e qualquer ação

Deixe fluir o sentimento

Leve da meditação."

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A PERDA DE UM FILHO



O Jorge Costa é pedagogo, formando em sociologia, técnico da rede municipal e estadual de educação, já foi uma imporante referência no movimento acadêmico e no movimento anarquista ou seja, um dos exemplares da elite cultural do Pará e esteve recentemente recebendo como prêmio a ingratidão e o descaso das autoridades estaduais e municipais conforme podemos acompanhar nos relatos a seguir. Podemos imaginar o que passam as pessoas que não tiveram acesso aos meios acadêmicos e sociais que teve o nosso amigo.

O4/10/2009:

Caro Jorge Costa
Realmente lamento muito o que está acontecendo com você, me parece que é uma realidade presente na maioria das famílias, o sofrimento a partir do descaso do poder público com a saúde e o endeusamento da classe médica que quando conseguimos ter acesso parece tão desumanizada e distante de seus pacientes.
Não consegui abrir o conteúdo do anexo, procure fazer um novo fomato e envie novamente, passarei o conteúdo do email para minha lista de contatos virtuais.
Sei que é difícil, mas peço que procure manter o máximo de calma neste momento até mesmo para que logo venha a recuperação do trauma e possíveis soluções se tornem mais claras para que as sequelas sejam logo solucionadas.
Um grande abraço.
Sinval Santos.


CAR@S AMIG@S,

Minha companheira Sol estava grávida de 3 meses e perdeu o bebê por falta de atendimento médico decente e omissão do poder público para fazermos o pré-natal. O posto de saúde do bairro (Cid.Nova 8)disse que o pré-natal só seria possível se morássemos no entorno do posto (moramos a 400m); IPAMB, Unimed, têm carências de meses para poder prestar assistência, etc...
Foi preciso entrarmos no ministério público para sermos atendidos no HCGV-Hosp. da Clínicas Gaspar Viana. A Sol ficou internada por cinco dias e teve alta, porém no dia seguinte o sangramento não parou. Nossa labuta continuou até que na quinta (01/10), ela foi atendida na Santa Casa, onde pela primeira vez, fizemos um ultra-som e constatamos as batidas do coração do bebê...ficamos felicíssimos por alguns minutos até que, quando voltávamos para casa, ela sentiu fortes dores e retornamos à Santa Casa. Pra nossa infelicidade o embrião não resistiu e "desceu"...
Agora (domingo, 04/10), estamos nos recuperando de tantos contrangimentos...

Peço a todos e todas que enviem a seus amigos (virtuais) um "ensaio" que elaborei como síntese de minha revolta pelo que eu e minha companheira passamos.

Agradeço por demais a gentileza... e pra mim seria mais interessante que meu artigo fosse publicado em "algum lugar" fora do nosso querido Estado do Pará... Amig@s, por favor, divulgam minha nota (encaminhem, se possível, também pra amig@s de vocês em outros Estados ou países ).

1 forte abraço,

Jorge Costa (Lembrem-se de ler o anexo) - 9115.0208



03/outubro/2009-Sábado-22h
AO
QUASE JOÃO SOL

Meu quase filho, por algumas semanas vc se mostrou pra nós (eu e sua mãe Sol). Já estávamos te esperando para habitar conosco a superfície terrestre e ser amigo dos nossos amigos e um braço forte pra fazer parte do exército de indignados contra este sistema capitalista perverso que beneficia somente os privilegiados integrantes da classe dirigente deste planeta e que tem no dinheiro o seu baluarte.
Os exames médicos não conseguiam te visualizar até que um exame mais detalhado te fez visível aos nossos olhos e corações, com suas palpitações dentro de um invólucro uterino (por alguns minutos eu e sua mãe ficamos deslumbrados com sua micro-existência, brincávamos com as palavras: HÁ VIDA DENTRO DO “SACO” !). Porém, os deuses não permitiram seu desenvolvimento e seu desabrochar, preferiram interromper a gestação (situação adicionada com a ausência de um atendimento médico adequado e preventivo que deveria existir pra todos os cidadãos).
É indescritível a revolta que habita o meu ser diante de tamanha monstruosidade do poder público (gestores de saúde e tomadores de decisão do Estado).
Suspeito que milhares de seres humanos morrem diariamente por falta de assistência médica às gravidas que não têm relacionamentos estreitos com especialistas da ginecologia e obstetrícia.
João Sol, aqui no Estado do Pará, a saúde pública está nas mãos de um partido político (PMDB), que não tem nenhum compromisso com a ética, com a vida, com a qualidade dos atendimentos médicos, pois, por interesse de sobra de verba, pra eles é mais conveniente que não se gaste muito com os recursos de saúde pra população, visto que, caso se compre todos os equipamentos necessários aos postos de saúde e aos hospitais e se admita mais profissionais qualificados, as verbas que eles administram se tornam escassas para satisfazer sua megalomania e vaidades materialistas (suas e das madames que lhes acompanham, bem como de suas amantes clandestinas).
Aqui, não há pra onde se recorrer para pedir ajuda, todos os três poderes estão comprometidos entre si: o Executivo só pensa em manter-se no poder (pois o poder é doce e tem vitaminas); o Legislativo é uma gaiola de prostitutos da politica (são cínicos e vendem-se pra quem der o maior lance); o Judiciário não faz concurso público há séculos e os advogados não são confiáveis. Este último é o poder mais sisudo de todos e talvez o mais vil, exatamente por defender uma justiça apenas para os ricos (o intrigante é que os sobrenomes dos juízes, desembargadores, promotores, procuradores, delegados, são parecidos com os sobrenomes dos políticos, empresários, industriais, latifundiários, homens e mulheres de negócios, etc...)
O Quarto Poder, que pode ser a Mídia, as Ong´s ou o Ministério Público, é pouco confiável, com exceção das Ong´s (algumas! apenas as mais revolucionárias, aquelas que não são correia de transmissão dos partidos políticos). Quanto à Mídia, há que se revelar: UM FESTIVAL DE MEDIOCRIDADE! Seu jornalismo é só desgraça, suas programações são fúteis, deseducativas, não há seriedade, tampouco respeito pela inteligência das pessoas (subestimam em demasia nossa capacidade de discernimento). Seus proprietários são todos mercadores de notícias, selecionadores de informações, decodificadores de fofocas, estão sempre a serviço de quem dá mais, podem apoiar ou denegrir, dependendo da conveniência.
Quanto ao Ministério Público, pressinto que ele está colapsando por excesso de demanda e por escassez de recursos humanos. Parece haver uma certa resistência em fazer concurso público para os diversos profissionais que deveriam atuar nesta instância (talvez seja o poder que mais tenha servidores temporários proporcionalmente).
É, Joãozinho, nossa sociedade é um bocado complexa. Mas este é o lado podre. Quero te falar um pouco do outro lado: aqui também têm “coisas” interessantes e muito bacanas. Moramos na Amazônia, uma região afrodisíaca, com praias lindas, igarapés rejuvenescedores, frutas das mais apetitosas, pessoas das mais encantadoras e hospitaleiras. Suspeito que por aqui se pode apreciar o mais lindo nascer do sol, o mais belo entardecer e contemplar as mais variadas culturas (dança, artesanato, música, poesia, arte culinária, etc...).
Infelizmente não vieste habitar conosco esta parte da superfície terrestre, mas já deixaste saudades... saudades do devir... da quase-vida... da ESPERANÇA.
Vai em Paz Joãozinho e obrigado por nos visitar por algumas semanas!


Jorge Costa

Contato: dela.costa@hotmail.com

Obs.: Favor espalhar este desabafo.