SINVAL SANTOS

"A todo e qualquer momento,

Em toda e qualquer ação

Deixe fluir o sentimento

Leve da meditação."

segunda-feira, 23 de maio de 2016

RISTE TUDO A TEMER NO MACHISMO





                                                                   


                                  RISTE TUDO A TEMER NO MACHISMO

     Tenho refletido e cada vez mais, estou convicto da necessidade que temos enquanto artistas, de nos comprometer com os momentos históricos que vem ocorrendo, tornando nossas criações e momentos de apresentações, espaços de reflexão para que algo de bom se estabeleça no cenário político, fazendo com que realmente possamos sonhar com uma sociedade mais justa.
     Essa canção, composta em 1996, já estava concluída tanto em melodia quanto em letra, infelizmente, perdidas, então, tentei recompô-la, é claro que saiu diferente do que era. Porém, ocorreu um fato impressionante e muito feliz no processo de criação, o envolvimento de aspectos estéticos que terminam fazendo sentido na realidade atual, assim, o que talvez expressasse alguma realidade minha naquele ano, de repente começou a se encaixar nos fatos deste momento.
      No início, só tinha uma sequência de quatro estrofes compostas de tercetos, depois resolvi dobrá-las sendo que as outras quatro estrofes se aproximaram muito mais da realidade pactuada entre uma determinada revista e o  vice-presidente que acabou de se impor enquanto presidente interino ou anti-uterino, em mais um golpe histórico contra a democracia, quando as redes sociais denunciaram a proposta de se fazer uma apologia à submissão feminina e uma crítica ao avanço das mulheres tendo principalmente em vista o fato de se ter uma  presidenta da república. 
      Em alguns momentos pensei em mudar o título para Temer, que poderia ser lido não só como verbo, mas também, como nome próprio, muito apropriado, contudo, terminei achando o Riste mais adequando e depois que conclui a canção percebi que várias estrofes estavam próximas ao que estava acontecendo.
     Finalmente, aconteceu o que já se esperava, o governo, mesmo tendo ao seu lado entre outras, uma senadora como a Marta Suplicy, cheia de ódio, traidora e golpista, nasce totalmente em “Riste”, sem nenhuma mulher em seu ministério.
   Mas, assim como a guilhotina foi um instrumento que marca o terror da revolução francesa feita para decapitar os inimigos e posteriormente, decapitou não só o seu inventor como também os revolucionários, espero que esse mal se reverta, assim como a pressão popular conseguiu com que o Ministério da Cultura fosse reabilitado.
     Apesar de atualmente, não acreditar nesse sistema democrático, o que me faz votar nulo sempre e apesar de ser um crítico do governo Dilma, não consigo ver coerência em seus opositores mais corruptos ainda e espero que todos os articuladores do golpe sejam punidos e deixem espaço para que esse processo democrático que embora tão deficiente, não seja desrespeitado por quem não conseguiu vencer nas urnas.  





  RISTE



 Se um dia dizia eu ser tudo,

Seu jeito tão mudo
Diz que nada sou.

Sem fala, me cala escrava,
Teu falo me crava
A alma ao pelô.

Vestia a misoginia
Sobre a fantasia
Que dizia amor.

Amortecido 8 de março,
Meu passo amordaço
Em falso na flor.

Temo o seu dedo em riste
Que aponta que insiste
Em explorar sua mina.
Seta, lança, espada, punhal
Indicando o final
Do sonho de menina.
Acima do bem e do mal,
A ser serva, me ensina,
Na função sexual,
Maternal, na rotina.



 Uma bela adormecida
No leito da vida,
Recatada do lar,

Na torre de um pesadelo,
Do molde, a modelo
Sem se libertar

Com tudo a temer em vista
Na capa machista
Revista no ar,

Pra mídia golpista é errado,
Ficar lado a lado,
Por trás, é o lugar.

Temo o seu dedo em riste,
Um golpe da triste
Era da guilhotina,
Decapitando o direito igual,
Gênero general
Contra a força uterina.
Espada afiada no medo
Imoral da doutrina
Garantindo mais cedo
Ao poder que domina.


                           Sinval Santos
                                         1996