SINVAL SANTOS

"A todo e qualquer momento,

Em toda e qualquer ação

Deixe fluir o sentimento

Leve da meditação."

sexta-feira, 31 de julho de 2015

BATUQUE COM POESIA 2010



   A postagem a seguir, está registrada enquanto rascunho no meu blog desde dezembro de 2010 e por motivos técnicos, só agora, mais recentemente fui percebê-la e acho muito importante publicar as fotos junto com o texto quase todo já pronto na época.                                
   O Batuque com Poesia, é um evento que acontece anualmente, sendo  a mistura de falas e sons para marcar com atos e fatos o Dia Nacional da Consciência Negra realizado por um grupo de amigos. Esse ano, ocorreu no dia 20 de novembro, no bar do Potyguar, na Alameda N-5, do Conjunto COHAB, bairro da Agulha no Distrito de Icoaracy.
  É muito importante termos a consciência política de que nós somos negros/as, fazemos a história e estamos construindo o nosso tempo e o nosso espaço com trabalho, sonhos muita vontade de fazer existir um mundo com pessoas mais éticas, humanas e solidárias. Um mundo onde não sejam necessárias discriminações, preconceitos, intolerâncias e injustiças sociais. Então, o batuque com poesia é um espaço de reflexão e arte a favor da edificação do nosso papel político e social dentro de nossos diversos contextos.
  Esse, é sempre um evento muito  especial apesar das dificuldades vivenciadas para sua realização, mas que terminam sendo superadas a partir da energia e boa vontade que move seus organizadores.

  Na ocasião,  os convidados foram presenteados com uma bela peça de artesanato em cerâmica moldada  em Icoaracy como recordação do evento e várias belas peças muscais de compositores locais e com violão e voz  pelo aniversariante na ocasião, nosso querido amigo Tony, que também nos brindou com suas canções.
 Vale ressaltar a riqueza do bifet organizado a partir de pratos fornecidos por nosso anfitrião e também por contribuições das pessoas que se faziam presentes, sendo alguns vegetarianos ou veganos.
Tivemos momentos de discurso e de reflexões, mesclados com poesias e performances, com a presença do editor e poeta Claudio Cardoso, do poeta cordelista Apolo da Caratateua,
da professora e performancer Sol,  do percussionista Flávio da Gama e do Bil e foi mais um momento de grande felicidade por poder me apresentar com essas pessoas na percussão ao lado do meu sobrinho Francisco Alencar no baixolão.
Tenho a grata satisfação de partilhar o convite de um grande educador que acredita e investe na arte enquanto instrumento de transformação social.   
      
   
Vida longa ao Wagner Magno e seus colaboradores que acreditam e investem na arte enquanto instrumento de transformação social  com suas ações artísticas e pedagógicas  em busca de um mundo mais solidário!

      





    

























PADREBRUNIZAÇÃO DA MAIORIDADE PENAL









     Hoje, dia 31 de julho de 2015, completa 76 anos de idade, uma pessoa muito importante para todos nós, inclusive para aqueles que ainda não sabem ou não reconhecem sua importância. Mas, qualquer um que tenha dedicado sua vida a combater a exploração de crianças e adolescentes em estado de risco, lutando para que tenham maioridade de direitos  e não maioridade penal como ele tem feito, merece todo nosso carinho.  Faz um bom tempo que não o vejo pessoalmente, mas sempre fico muito feliz quando tenho a oportunidade de saber de suas ações ou assisti-lo em algum programa de entrevista, sempre com uma fala muito a frente de seu tempo e dos dogmas religiosos.
   Tive a grande felicidade de atuar  na Escola Cidade de Emaús, no período  de 84 a 87, sendo minha primeira  e melhor experiência enquanto professor de Arte na Educação Pública,   por vários aspectos, entre eles, o de ter convivido na articulação da escola enquanto gestora, a educadora Ana Tancredi ao lado de Graça Trapassos, Inácia e outras pessoas envolvidas desde aquela ocasião com a construção de uma sociedade mais justa a partir de processos educativos que estimulavam a visão crítica e a criatividade.
     A Escola Cidade de Emaús, apesar de ser conveniada com a SEDUC, estava inserida em um grande projeto social denominado de Movimento República de Emaús, tendo a frente um sacerdote, muito importante para os movimentos sociais de proteção aos menores e adolescentes de Belém, chamado Padre Bruno Sechi. Meu primeiro contato com esse ser tão especial, foi quando eu tinha 11 anos de idade em 1971, por ocasião de um curso de patrulheiros mirins no Batalhão de Guardas da Polícia Militar do Estado. Na ocasião ele nos deu uma palestra sobre as diversas atividades promovidas em cada um dos setores que faziam parte  do movimento maior e passei a prestar mais atenção em sua obra, principalmente por ocasião do período da Coleta de Emaús que mobilizava também, o bairro da Pedreira, até ter a chance de atuar nessa escola e passar a ter contato presencial com ele quando eram realizados encontros pedagógicos ou comemorações.


     No período que lá trabalhei, entre outras,  fiz uma composição musical em ritmo de samba inspirada no cenário em que lá trabalhávamos. As salas de aula eram semelhantes às malocas indígenas com formato circular e o teto coberto por palha o que as deixava com um aspecto mais rústico, mais ventiladas, mas, algumas vezes acometidas por goteiras, o que não chegava a ser um problema sério, pois no geral, a escola era bem supervisionada e os problemas de origem material eram rapidamente resolvidos,  restando a todos muito mais o visual poético e a canção da chuva chocalhando em nosso ouvidos durante as aulas “A chuva cai na palha da maloca E corre entre as cercas Molhando as plantas secas. Aí então, vem o menino e fala:Tem goteira aqui na sala, A educação não presta E o povo ainda se cala!”

      Sei que assim como no aspecto físico, muitas coisas devem ter mudado, mas, espero  que essa escola ainda resista por muitos e muitos anos, fazendo uma educação realmente transformadora, pois, recentemente, tive o prazer de passar a conviver profissionalmente na rede municipal com a professora, Walkiria Santos de Sociologia, que morou no bairro do Bengui e que estudou nessa escola e que por seus depoimentos e comportamento ético demonstra  o quanto de bom a Escola de Emaús continua fazendo pro seus alunos. Um pouco mais distante no tempo, tive o prazer de trabalhar na escola Palmira Lins com o Francisco Batista, professor de Geografia, morador e agente pastoral da Terra Firme com quem voltei a ter informações das ações libertadoras do Padre Bruno naquele bairro.
     Como muitos outros sacerdotes progressistas que atuaram ou continuam atuantes na teologia da libertação, ele é alguém que precisa ter sua biografia relatada em livro distribuído em todas as livrarias e bibliotecas públicas e particulares, tendo sua vida, sua obra, trabalhada enquanto capítulos de disciplinas como Sociologia, Estudos Amazônicos, Ensino Religioso e História  para que todos saibam o quanto é possível unir o homem religioso com o político verdadeiro. E assim, como a todos os projetos criados e coordenados por ele e sua equipe, vida longa e com muita saúde ao padre Bruno Sechi!
NOVA OPÇÃO
A chuva cai na palha da maloca
E corre entre as cercas
Molhando as plantas secas.
Aí então, vem o menino e fala:
Tem goteira aqui na sala,
A educação não presta
E o povo ainda se cala!

A coisa é séria, grave, assim tão feia
Com o pacotão diário
Congelando o salário
Fazendo o povo de otário.
Congelou todas as saídas para o pobre,
Mas, pro nosso patrão rico
Deu licença pra que roube.

Sem escola, sem alimento,
Sem saúde, só sofrimento,
Sem pensamento, nos quer o poder
E a velha opção do povo é sofrer, sofrer, sofrer!

Não só da escola vem educação,
Secaram a sacola, encheu o saco o patrão.
Educado em revolta quer de volta o poder

E nova opção, do povo é vencer, vencer , vencer!

domingo, 12 de julho de 2015

EDILSON SANTOS ARTE MANO A MANO




    

  Filho de Sinval Corrêa dos Santos, oficial da PM, professor de Educação Moral e Cívica e de Língua Inglesa e de Raimunda Maria de Nazaré Santos, mulher muito habilidosa para artes manuais como o bordado e jardinagem, nasceu no dia 10 de outubro de 1957 em uma família de 11 filhos, Edilson Corrêa dos Santos é  dois anos mais velho que eu e fomos criados juntos numa casa sempre cheia de livros onde desde criança tive o prazer de presenciar  e me surpreender com a manifestação de seu talento.

     Aprendi a tocar instrumento a partir de sua  iniciativa de pedir ao papai que lhe desse um violão aos quinze anos ao qual nunca  se dedicou de todo, mas a partir de então, sempre com um violão ao seu alcance, aprendeu a tocar algumas poucas canções e começou a se inspirar para escrever e compor belas composições das quais acompanhei o processo de criação ou ele nos mostrava em ocasiões de encontro. Lembro de algumas, uma delas, baseada em fato real da violência policial tão comum nos anos 70 quando um delegado da policia civil invadiu nossa casa armado dizendo estar atrás  de um bandido, que tinha umas estrofes mais  ou menos assim, "Acordei sobressaltado A noite estava escura, Soldados, latidos, gritos roucos... Uma bala em minha porta, foi por pouco!", Naquela ocasião, acho que tinha apenas 17 anos  e pediu para um cantor, José Rodrigues cantá-la com os acordes do violão e sua bela voz, uma outra canção surpreendente, Sabath que lembra aquelas feitas para crianças, relatando as aventuras de  de uma bruxinha que queria ser eleita rainha de sabath e uma outra, Times of War (Tempos de Guerra), falando sobre a paz universal totalmente em língua inglesa.  

    Se destacava com textos surpreendentes na escola, lembro de uma professora nossa ainda na 3ª série elogiando e mostrando para a colega um texto livre contando a história de um combatente na II guerra mundial. Em 96 acredito, solicitou para que meus filhos digitassem um livro de poesias seu que tinha interesse de publicar através do qual tive mais aproximação com sua obra literária enquanto revisor, mas que infelizmente nunca foi publicado, o que espero acontecer em breve, pois continua escrevendo com muita profusão.
    É nas artes plásticas que mais ele tem demonstrado seu talento, pois desde criança se interessa pelo desenho e pintura, sendo interessante acompanhar seu processo de produção permanente utilizando várias técnicas e suportes diferentes, não se detendo em nenhum material ou tema especifico e apesar de grande parte de seus trabalhos serem figurativos e atualmente dedicar-se muito mais a fazer desenhos coloridos com giz de cera sobre lixa, produz também instalações, objetos, charges, fazendo de seus aposentos um espaço de visitação onde vemos pinturas nas próprias paredes, algo que era muito mais possível de se ver quando era proprietário do Bar Coco Verde no Bairro da  Pedreira, onde durante o atendimento ao público estava sempre desenhando e mostrando sua produção para os frequentadores que podiam também vê-las em instalações ou em murais. 
    Na diversificação de temas, vemos que tem uma quantidade muito maior de figuras humanas, sendo  muitas delas retratos e auto-retratos, alguns semelhantes em que podemos identificar amigos e parentes outros  nem tanto, mas todos feitos com muito vigor e uma carga de emoção muito grande. Se destaca também, por fazer muito nus em postura sensual ou se relacionando sexualmente. Alguns desenhos assumem uma aparência de charge em que ele acrescenta texto, vemos também muitas paisagens, animais e abstrações.
    Observarmos sua realidade como um todo, é uma boa oportunidade para se fazer uma reflexão sobre  quem é artista ou  quais são os critérios para qualificar uma pessoa enquanto tal.  Algo que deve ser feito sempre com muita cautela para não cairmos nas armadilhas  da mídia, do capital nem da ditadura da política cultural que promove alguns em detrimento de outros. Se olharmos com atenção, será fácil percebermos que artista não necessariamente, é aquele que é bem sucedido financeiramente a partir de sua obra ou da proteção de outrem, sendo também artista, aquele que faz arte com emoção, com prazer,  mesmo que sua arte não esteja sendo mostrada na mídia, exposta em galerias oficiais ou sendo comercializada, pois, apesar de nunca ter entrado no circuito oficial das artes, tem uma produção muito ampla, diversificada e fluente, digna de admiração e apoio que nos surpreende a cada visita. 
    Edílson Santos, tem curso superior de administração de empresas na UFPA, mas, enquanto artista  é autodidata. Na realidade, tivemos juntos poucas aulas com o Senhor Manoel Almeida, quando tínhamos 10 e 11 anos, antigo inquilino da vila de propriedade da família que nos ensinava como aplicar as cores da tinta gouche em pequenas paisagens. Posteriormente, teve apoio na adolescência, principalmente  com envio de material de desenho e pintura mais especializado através de uma de nossas irmãs, Edinéia Sindona que também é artista plástica e mora em São Paulo.



    A seguir, fiz uma seleção a partir de imagens registradas, infelizmente,  com baixa resolução o que não permite ver nitidamente a qualidade da luz e cor,  mas, através da qual  podemos observar em algumas poucas de suas muitas obras ainda guardadas, o seu amplo universo na linguagem das artes visuais. Espero que gostem!